– Crônicas e Críticas; Humor e Acidez; Idéias Espinafradas por Tiago Xavier

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#HumorSemLimites – Pela Liberdade de Expressão.

Uma piada sobre suicídio? Meu Deus!!! Onde esse mundo vai parar?

Sou aficionado na manifestação de idéias por intermédio do humor. Seja em programas de televisão, no teatro, em um bar de comédia Stand Up, na literatura, em charges ou em apenas 140 caracteres, como permite o Twitter. Com o humor, podemos assimilar melhor um conceito e elaborar com um olhar mais crítico uma perspectiva sobre questões importantes na sociedade. Não é a toa que a política é grande alvo de piadistas e humoristas. Não é a toa que os costumes e regras convencionais de uma sociedade também é alvo de deboche

Piadas servem para a desconstrução da imagem do que é comumente tido como sagrado. Fazem descer o nobre de seu pedestal, onde sustenta as honrarias de ser ou fazer parte do exercício do poder. Uma boa piada transforma a mais bela e casta princesa na mais devassa das putas.

Se a condição para uma boa piada é a dessacralização daquilo que é sagrado, então é óbvio que não existe humor baseado em uma postura politicamente correta. A função do humor, aliás, é ser incorreto. É brincar com temas que são considerados tabus na sociedade – tragédias, sexualidade, roubo, deficiências físicas, diferenças físicas, étnicas e comportamentais, distúrbios sociais, corrupção… Não faltam temas ao humor. Como também não faltam pessoas que queiram limitá-lo.

O escritor e humorista Mark Twain afirmava que “a fonte secreta do humor não é a alegria, mas a mágoa, a aflição e o sofrimento. Não há humor no céu”.  Sua afirmação vai de encontro com algumas teorias acerca do humor, que partem do pressuposto que o riso é oriundo da sensação de superioridade de um indivíduo frente a outro, ou uma situação qualquer. O riso pode ser visto como uma resposta à percepção de superioridade por parte do indivíduo. A superioridade pode ocorrer pela depreciação do outro, mas também, pela depreciação da ética e da moral estabelecidas, comumente visto em piadas e trocadilhos que zombam das regras sociais.

Não há limites para o humor. Mas as pessoas que se tornam alvo de piadas e não tem a capacidade de rir das suas próprias picuinhas, querem limitá-lo. Passeatas foram feitas recentemente em protesto às piadas de Rafinha Bastos e Danilo Gentili, ambos comediantes do estilo Stand Up e integrantes do humorístico/jornalístico Custe o que Custar (CQC). Rafinha fez piadas sobre estupro e amamentação em público e Danilo fez piadas sobre judeus. Uma galerinha politicamente correta fez com que as redes sociais fossem invadidas de mensagens a favor de que os humoristas citados acima deveriam ser censurados. O Bar Comedians, de propriedade dos dois humoristas, foi alvo de pichações durante uma passeata de cunho feminista conhecida como Marcha das Vadias.

QUAL ERA O LEMA DA PASSEATA? CONTRA O BOM HUMOR E A FAVOR DA CENSURA?

Sou um defensor da Liberdade de Expressão. Para mim, ela é como a gravidez. Não existe meia gravidez; ou é inteira ou não é. Nenhum tipo de restrição é aceitável para as idéias: nem mesmo às preconceituosas, antidemocráticas, racistas, sexistas, xenófobas, sanguinárias, revisionistas (por exemplo, para aqueles que dizem não ter havido o holocausto). Nenhuma idéia é inadmissível, até mesmo a mais aberrante, até mesmo a mais odiosa.

Isso não quer dizer que defendo essas idéias. Pelo contrário, eu as combato com veemência. Mas tenho certeza que a manifestação de preconceitos é resultado e não causa do sistema ao qual estamos submetidos, que é baseado na mercantilização e no lucro, no “fetiche do dinheiro”.

A melhor forma de combater essas idéias é deixá-las vir à luz, pois a proibição as torna atrativas e transforma em “mártires” os que são vítimas da censura. Não há nem bom nem mau uso da liberdade de expressão. A absoluta tolerância com todas as opiniões deve ter por fundamento a intolerância absoluta com todas as barbáries.

Deixo aqui a dica de uma ótima leitura sobre Liberdade de Expressão. É um livro chamado “Nada É Sagrado, Tudo Pode Ser Dito”, escrito por Raoul Vaneigem. O autor defende que até a besteira do “Mein Kampf” deve ser liberado. Melhor que circular clandestinamente na organização de grupos neo-nazistas. E antes que algum maluco venha me espinafrar, deixo claro que não é a propaganda nazista que se está fazendo aqui, porque “propaganda” implica em defender “ir às vias de fato”, ou seja, praticar a intolerância.

Um vídeo circula na internet com um babaca falando as maiores asneiras. Não confundam esse tipo de babaquices com humorismo. Esse cara não é humorista. Ele apenas acredita nas besteiras que fala. Ele também não é cria de Rafinha Bastos, como o editor do vídeo deixou entendido. Parece sim um eleitor do Bolsonaro – é apenas um boçal que quer aparecer fazendo um vlog na internet e tem todo direito de fazê-lo e a ele deve ser dado todo o direito de falar seus absurdos. Não é a Liberdade de Expressão de um babaca que deve ser combatida, mas sim o preconceito existente no meio social. Temos que tolerar as opiniões. O que deve ser alvo de intolerância é a barbárie. Enquanto for um comentário, um discurso, uma polêmica, é apenas uma opinião – execrável, antiquada, condenável moralmente, mas opinião. Agora, este discurso de defesa do coletivo – “raça”, comunidades, nações, etc, sabem se defender. Não precisa de iluminados que se proclamem os verdadeiros defensores dos fracos e oprimidos. Ação afirmativa sim; censura nunca mais. Não podemos perder o sono com baboseiras que não mudam nossas vidas. Mas perco o sono com o risco de que a liberdade que desfrutamos possa ser ameaçada. Nisto, não tem acordo. Ou se é a favor da liberdade de expressão, ou contra.

Quando aos censores do humor, um pequeno recado – saibam que o humor sempre vai atacar as certezas de seu público. Piadas de esquerda para o meio cultural, ou sátira do politicamente correto na TV aberta – trocando “anão” por “verticalmente prejudicado”, coisas assim – são um tipo de fraqueza, eventualmente de caráter. Não sou um estuprador por rir de uma piada de estupro. Não sou homofóbico por rir de uma piada sobre gays e tampouco sou racista por rir de uma piada sobre judeus, negros, asiáticos, índios ou qualquer outra coloração que queiram retirar dos chistes. Tenho o direito de rir, como você tem o direito de não rir. Mas, citando Alexandre Soares Silva: “Todo mundo que diz ‘se isso é humor, então eu não tenho nenhum senso de humor’ não tem nenhum senso de humor.”  

Em um mundo perfeito, o deficiente mental guiaria um cego.

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